Bolsonaro está desesperado porque pode ser processado e preso, diz cientista político

Apesar da polêmica levantada pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que questionou a legitimidade do voto eletrônico do Brasil, um sistema de urnas com impressoras que emitem um comprovante, como defende o chefe de Estado, não poderia ser implementado até as eleições de 2022.

Esta é a análise do cientista político George Avelino. Para ele, Bolsonaro lançou a polêmica como maneira de se manter no poder. “O presidente está desesperado. É uma eleição que ele não pode perder.”

“O voto eletrônico tem funcionado perfeitamente ao longo desses quase 30 anos”, lança o professor da Fundação Getulio Vargas, lembrando que o sistema está em vigor desde 1996 e que, desde que foi implementado, eliminou os riscos ligados à cédula de papel.

“Naquela época [antes do voto eletrônico] aconteciam muitos erros. O eleitorado brasileiro, em boa parte, não sabe escrever o nome ou o número do candidato, e isso gerava um espaço muito grande para fraudes, por exemplo quando o voto ficava em branco”, resume o cientista político.

Ele também conta que chegou a ser feita uma tentativa de instalar uma impressora acoplada às urnas, em 2002, pelo Tribunal Eleitoral. “O resultado, do ponto de vista do voto, foi nulo, pois o que foi impresso era o que estava na urna. Mas o tempo que se levou para votar aumentou consideravelmente”, relembra.

Bolsonaro sempre foi contra o voto eletrônico, insiste o professor. “O presidente tem uma origem no Estado do Rio de Janeiro, onde havia muita fraude. Então ele acredita, talvez, que o voto eletrônico apenas sirva para esconder fraudes”, avalia.

Mas para Avelino, a real motivação de Bolsonaro ao criar um debate em torno do sistema eleitoral vai além de uma resistência histórica do chefe de Estado. “Essa insistência recente dele tem muito a ver com uma perspectiva de derrota [na próxima eleição]”, sentencia, em alusão às pesquisas de intenção de voto que “indicam uma insatisfação da maioria dos eleitores com o governo dele”.

Entretanto, “o presidente está desesperado porque é uma eleição que ele não pode perder”, afirma o professor. “Ele tem uma grande ameaça de ser processado e preso por crimes que cometeu com relação à administração da crise da pandemia no Brasil, à compra de vacinas e aos problemas que tem no Rio de Janeiro”.

A contestação do voto eletrônico seria, na avaliação de Avelino, uma espécie de cortina de fumaça para desviar a atenção de outros problemas, entre elas a gestão da crise sanitária. “Bolsonaro vai brandir a questão da ilegitimidade das eleições para tentar desviar esse tema, se manter no poder e não ser processado. Ele vai brandir qualquer argumento para se manter no poder”.

Carta Capital

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