Em relato histórico, Ronaldinho lembra cassação de Ronaldo Cunha Lima pela Ditadura: “O que lembro com precisão daquele instante é o puta que pariu que meu pai grita e na sequência joga o rádio no chão”

Acabo de receber no WhatsApp um relato histórico de Ronaldinho sobre o momento em que Ronaldo Cunha Lima, então prefeito de Campina Grande, escutara na rádio que estava sendo cassado pela Ditadura. Perseguido, Ronaldo foi para Rio de Janeiro e São Paulo, onde chegou a vender sapatos para sustentar a família.

“O dia era 13 de março, o ano 1969, fazia 45 dias que o meu saudoso pai, o Poeta Ronaldo Cunha Lima, havia assumido a prefeitura municipal de Campina Grande, depois de vencer uma eleição histórica. Morávamos todos, eu ,minha mãe Gloria, Cássio, Glauce e Savigny, na modesta casa de telha aparente da nossa querida avó Nenzinha, na pacata rua Solon de Lucena.

A casa era simples, mas muito aconchegante, tinha quintal e pés de sapoti, oiti, manga, goiaba e abacate. Naquele tempo eu brincava de peão, coruja, patinete, esconde-esconde…. eu era uma criança feliz. Naquele tempo ‘também, vivíamos sob o jugo de uma ditadura militar, que teve início no dia 31 de março de 1964.

Dentre os atos baixadas pelo regime ditatorial, o AI-5 foi sem dúvida o mais cruel e ignóbil deles. Voltando ao dia 13 de março: era noite, estávamos eu, Glauce e Cássio brincando sobre a cama e numa rede próxima estava meu pai com um rádio de pilha colado à orelha escutando a relação do nomes das autoridades que eram cassadas pelo regime militar sem que fosse dada qualquer explicação.

O que lembro com precisão daquele instante é o “puta que pariu” que meu pai grita e na sequência joga o rádio no chão que se espatifa. Foi uma cena dramática. Ele tinha acabado de escutar o nome dele dentre os cassados. O mundo desabou. E desabou também uma forte chuva. Parecia que o céu chorava por aquela inimaginável injustiça. Nossas vidas mudaram radicalmente.

As ditaduras, por não representarem a vontade da maioria, se impõem pelo medo. Todos viviam com medo. Tendo perdido o mandato que lhe fora outorgado pelo povo de Campina Grande e não podendo exercer o cargo de promotor público, para o qual havia passado mediante concurso público, o Poeta viu-se obrigado a ir para São Paulo, onde foi buscar um meio de garantir o sustento da família, que só tempos tempos depois tb foi pra São Paulo. Na Av Augusta, como vendedor de sapato, foi esse o primeiro emprego do prefeito e promotor cassado. A história continua. É longa e extraordinária. Aí eu me pergunto: o que faz um cidadão de bem desejar o retorno de um tempo tão sinistro?”.

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